VINHO E SAÚDE

VINHO E SAÚDE


Li certa vez, em um dos livros do irreverente jornalista e escritor italiano Pitigrilli, que “a vaidade é um véu que fica sempre bem às mulheres”. Com efeito, o que se vê em escala cada vez maior nestes tormentosos tempos, são jovens, movidas por esse sentimento, fazendo de tudo a fim de se tornarem mais belas: implantes de silicone nos lábios, nos seios e nos glúteos, cirurgias plásticas, tratamentos de beleza que deixam cabelos e rosto mais bonitos, inclemente malhação em academias de ginástica e, sobretudo, submissão a árduos regimes alimentares.
Sempre aplaudi o emprego moderado dos meios pelos quais as mulheres tornam-se mais belas e atraentes. O que não posso aceitar, entre outras coisas, é a ditadura da balança como critério de beleza, caso de conhecida nossa, bonita e radiante, mas que perdeu todo o viço ao submeter-se a radical dieta alimentar e a exagerados exercícios físicos, que a deixaram magérrima.
Dietas existem para qualquer gosto. Feitas com rigor, resultam quase sempre na perda dos indesejáveis quilinhos a mais, que no entanto voltam rapidamente se não houver reeducação dos hábitos alimentares. Talvez a mais conhecida delas seja a badalada Dieta do Mediterrâneo, originária dos países banhados por aquele braço do Atlântico que, embora culturalmente diferentes, têm costumes semelhantes quanto à alimentação. Caracteriza-se pelo consumo de frutas, hortaliças, cereais, leguminosas e oleaginosas, leite, queijos, iogurtes, azeite de oliva e... vinhos. Contudo, baixa ingestão de carnes vermelhas, gordura animal, produtos industrializados e doces.
Não sei se minha condição de apreciador de bons vinhos proveio apenas do conhecimento dessa dieta. Certo, porém, é que fui muito estimulado por amigos franceses e pela visita que me proporcionaram a uma grande vinícola em Cahors. Foi deles, também, um lindo e ilustrado livro, “Le Vin”, que ganhei de presente e que volta e meia consulto para melhor conhecer esse verdadeiro“néctar dos deuses”.
Mas, como sói acontecer com muitas das coisas boas da vida, segundo estudo publicado recentemente pela conceituada revista Lancet, pesquisadores ingleses concluíram que a ingestão de mais do que cinco taças de vinho de 175 ml por semana é prejudicial à saúde, uma vez que predispõe o indivíduo a ter um derrame cerebral, a desenvolver um aneurisma ou a sofrer de insuficiência cardíaca, males esses que podem levar à morte. Em casos extremos, até mesmo a redução em dois anos da expectativa de vida.
De minha parte, embora preocupado com a conclusão dos cientistas, fico à espera de rápido desmentido, como aconteceu com o azeite de oliva e os ovos, que de vilões passaram a benfeitores da saúde humana. É que não se sabe quais interesses, capazes até mesmo de comprar consciências, estão por trás disso tudo. 
Acho que essa preocupação refletiu-se em meu rosto, pois o Raimundo, assim que me viu, foi logo perguntando o que tinha acontecido. Relatei-lhe, então, qual tinha sido a conclusão dos cientistas ingleses quanto ao vinho. “Não faz mal, seu doutor”, consolou-me ele de imediato, “o senhor beba seu vinho nos primeiros dias da semana e nos outros venha tomar daquela cachacinha mineira que tenho aqui em casa. Muito melhor...” Será que sobrevivo?
Darly Viganó
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POLÍTICAS INSÓLITAS

POLÍTICAS INSÓLITAS
A imagem que vi pela televisão deixou-me perplexo: pesada escavadeira, qual monstro voraz, passando por cima de carros e motocicletas de luxo apreendidos como contrabando, entre os quais um Lamborghini Gallardo, um Porsche Carrera, u’a Mercedes SLK 280 e várias potentes Harley Davidsons, destruindo-os inapelavelmente. O fato ocorreu na província filipina de Cagayan, sob a justificativa de desencorajar eventuais novos contrabandistas. 
Ninguém em sã consciência pode ser contra o combate ao contrabando e ao descaminho, condutas delituosas que afrontam diretamente o interesse público. Apenas para registrar, sem maiores aprofundamentos, o contrabando caracteriza-se pela entrada no país de produto legalmente proibido, enquanto que o descaminho ocorre quando o bem, embora não sendo proibido, ingressa sem o pagamento dos tributos devidos. 
O que não se compreende é que os bens apreendidos, muitos de alto valor, como os mencionados acima, sejam destruídos ao invés de regularizados e aproveitados pela própria administração, ou então vendidos para terceiros interessados, como fazem praticamente todos os países. Até porque não procede o argumento de que sua destruição, em espetáculo midiático visto pelo mundo inteiro, venha a inibir novas condutas desse jaez. 
A vida em sociedade, com os apelos que o consumismo consegue fazer chegar à população através de engenhosas operações de marketing, produz distorções que precisam ser diuturnamente combatidas, mas de forma inteligente, sem voluntarismos despidos de base adequada. Vejam outra face desse mundo cruel, que é a busca do prazer, ainda que artificial, pelo consumo de drogas psicotrópicas. É tamanha sua força que os adictos acabam destruindo tudo, a família, a saúde e até a própria vida a fim de satisfazer o vício que os subjuga. E como esse nefando comércio movimenta milhões, surgem os aproveitadores da desgraça alheia, articulados em poderosos carteis ou em facções criminosas que, à força de modernas armas, desafiam o poder público e até dominam partes do território, impondo sua lei e sua ordem. 
Combater o tráfico de drogas, assim como o contrabando, é outro desafio dos governos que precisa ser feito com inteligência. A pena de morte para traficantes, que nas Filipinas também executou, ao que me consta, dois desavisados brasileiros, apesar dos pedidos de clemência de nosso governo, também parece de nada adiantar. É que não é apenas o medo de ser levado ao pelotão de fuzilamento que dissuade o intermediário de traficar, mas principalmente a enganosa certeza de que não vai ser preso. Sabe-se que a controvertida política antidrogas filipina provocou, em um biênio, mais de quatro mil mortes, sem acabar de vez com o tráfico.
Gosto de trocar idéias com Raimundo sobre temas atuais. Por isso, aproveitei o momento em que ele me perguntou se tinha visto, pela TV, aquele “tratorzão” passar por cima de carros e motos de luxo, para expor tudo o que penso a respeito. Quando me referi ao fuzilamento dos traficantes de drogas, ele me olhou com um olhar de “não sei não”, muito significativo. Porém, ao comentar a destruição dos carros, foi conclusivo: “Sabe, seu doutor, se eu estivesse lá, ia pedir ao presidente para trocar meu fusquinha pela Mercedes. Pedir não ofende, não é mesmo?”
Darly Viganó
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LIMITES PARA A CIÊNCIA ?

HÁ LIMITES PARA A CIÊNCIA?
Miss Scarlet e Miss Violet são irmãs muito parecidas entre si. Contudo, embora praticamente da mesma idade – são ainda bastante novas – , já dão sinais de possuírem personalidades diferentes. Filhas clonadas da cadelinha Samantha, que morreu com catorze anos de idade e que pertencia à cantora e atriz norte-americana Barbra Streisand, aparecem no colo de sua dona em recente edição da Revista Variety.
Tudo começou – hão de estar lembrados os leitores – com a célebre ovelha Dolly, clonada no Instituto Roslin, de Edimburgo, sob a direção do cientista Ian Wilmut. O processo consistiu em colocar o código genético de uma ovelha no óvulo de outra cujo núcleo havia sido pouco antes esvaziado, introduzindo-se, após, o produto assim obtido em um terceiro animal para gestação. Dos estudos realizados nesse extraordinário campo da ciência, chegou-se às células-tronco, que são multipotentes, ou seja, capazes de gerar praticamente todos os tecidos do corpo. Com elas, abre-se a possibilidade de cura de doenças até agora tidas como incuráveis.
Quanto à clonagem de animais, que de início despertou acaloradas discussões, hoje está sendo aceita sem maiores problemas. A China, com efeito, já possui o maior centro de clonagem animal do mundo, na cidade de Tianjin, onde são “duplicados” animais domésticos, cavalos de corrida e, principalmente, gado bovino. Estima-se que poderão ser produzidos, anualmente, até dez mil embriões bovinos, o que abre perspectiva alimentar bonançosa para a enorme população chinesa. Mas, se você quiser clonar seu cãozinho de estimação, como fez a mencionada atriz americana, também não há problema algum, bastando que esteja disposto a pagar elevado preço – em dólares – pois não fica nada barato.
Contudo, o tema que levanta árduos problemas éticos e religiosos é a clonagem humana, ainda não admitida por nenhum país, mas que é bem possível já esteja sendo feita sob sigilo. Replicar eminentes cientistas que tanto bem fazem à humanidade, ou artistas que produzem obras encantadoras, ou atletas extraordinários que extrapolam os limites físicos da pessoa humana, parece à primeira vista objetivo louvável. Entretanto, não se sabe ainda se os indivíduos clonados teriam, além da parecença física, a mesma personalidade, a mesma inteligência e a mesma capacidade de seus modelos. O que é falacioso, ao meu ver, é o argumento de que o homem não pode equiparar-se a Deus. Se o Criador permite que a ciência chegue a tal limite, é porque não se trata de um mal.
Contudo, a notícia que chamou atenção nestes últimos tempos, foi a disposição do mencionado cientista escocês – aquele da ovelha Dolly – de servir de cobaia para tratamento, com células-tronco, do Mal de Parkinson de que há pouco foi acometido. Já imaginaram, se a terapia for um sucesso e se outras experiências também resultarem positivas, não só estará consolidado promissor caminho terapêutico, como Ian Wilmut será, com muita justiça, introduzido na galeria dos maiores benfeitores da humanidade.
Em meu costumeiro papo de fim de semana com Raimundo, aquele caiçara que todos conhecem, depois de algumas amenidades contei-lhe das extraordinárias perspec-tivas de tratamento médico com células-tronco. Vi que ele ficou pensativo, mas depois de algum tempo enunciou conclusão que não tive como contestar. “Sabe, seu doutor, então não vai demorar para os grandes laboratórios colocarem à venda injeções, comprimidos ou sei lá o que, dessas tais células, até para curar o câncer. O preço, como sempre, é que vai ser o que eles quiserem...”. Você, amigo leitor, teria como contestar o Raimundo?
Darly Viganó
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LIMITES PARA A CIÊNCIA ?

HÁ LIMITES PARA A CIÊNCIA?
Miss Scarlet e Miss Violet são irmãs muito parecidas entre si. Contudo, embora praticamente da mesma idade – são ainda bastante novas – , já dão sinais de possuírem personalidades diferentes. Filhas clonadas da cadelinha Samantha, que morreu com catorze anos de idade e que pertencia à cantora e atriz norte-americana Barbra Streisand, aparecem no colo de sua dona em recente edição da Revista Variety.
Tudo começou – hão de estar lembrados os leitores – com a célebre ovelha Dolly, clonada no Instituto Roslin, de Edimburgo, sob a direção do cientista Ian Wilmut. O processo consistiu em colocar o código genético de uma ovelha no óvulo de outra cujo núcleo havia sido pouco antes esvaziado, introduzindo-se, após, o produto assim obtido em um terceiro animal para gestação. Dos estudos realizados nesse extraordinário campo da ciência, chegou-se às células-tronco, que são multipotentes, ou seja, capazes de gerar praticamente todos os tecidos do corpo. Com elas, abre-se a possibilidade de cura de doenças até agora tidas como incuráveis.
Quanto à clonagem de animais, que de início despertou acaloradas discussões, hoje está sendo aceita sem maiores problemas. A China, com efeito, já possui o maior centro de clonagem animal do mundo, na cidade de Tianjin, onde são “duplicados” animais domésticos, cavalos de corrida e, principalmente, gado bovino. Estima-se que poderão ser produzidos, anualmente, até dez mil embriões bovinos, o que abre perspectiva alimentar bonançosa para a enorme população chinesa. Mas, se você quiser clonar seu cãozinho de estimação, como fez a mencionada atriz americana, também não há problema algum, bastando que esteja disposto a pagar elevado preço – em dólares – pois não fica nada barato.
Contudo, o tema que levanta árduos problemas éticos e religiosos é a clonagem humana, ainda não admitida por nenhum país, mas que é bem possível já esteja sendo feita sob sigilo. Replicar eminentes cientistas que tanto bem fazem à humanidade, ou artistas que produzem obras encantadoras, ou atletas extraordinários que extrapolam os limites físicos da pessoa humana, parece à primeira vista objetivo louvável. Entretanto, não se sabe ainda se os indivíduos clonados teriam, além da parecença física, a mesma personalidade, a mesma inteligência e a mesma capacidade de seus modelos. O que é falacioso, ao meu ver, é o argumento de que o homem não pode equiparar-se a Deus. Se o Criador permite que a ciência chegue a tal limite, é porque não se trata de um mal.
Contudo, a notícia que chamou atenção nestes últimos tempos, foi a disposição do mencionado cientista escocês – aquele da ovelha Dolly – de servir de cobaia para tratamento, com células-tronco, do Mal de Parkinson de que há pouco foi acometido. Já imaginaram, se a terapia for um sucesso e se outras experiências também resultarem positivas, não só estará consolidado promissor caminho terapêutico, como Ian Wilmut será, com muita justiça, introduzido na galeria dos maiores benfeitores da humanidade.
Em meu costumeiro papo de fim de semana com Raimundo, aquele caiçara que todos conhecem, depois de algumas amenidades contei-lhe das extraordinárias perspec-tivas de tratamento médico com células-tronco. Vi que ele ficou pensativo, mas depois de algum tempo enunciou conclusão que não tive como contestar. “Sabe, seu doutor, então não vai demorar para os grandes laboratórios colocarem à venda injeções, comprimidos ou sei lá o que, dessas tais células, até para curar o câncer. O preço, como sempre, é que vai ser o que eles quiserem...”. Você, amigo leitor, teria como contestar o Raimundo?
Darly Viganó
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CARROS AUTÔNOMOS

Aconteceu há cerca de trinta dias, em pequena cidade perto de Phoenix, no Arizona, USA: um carro Volvo XC90 da Uber, trafegando em modo autônomo, atropelou senhora de quarenta e nove anos que, embora levada ao hospital, não resistiu e foi a óbito. Ainda que o chefe de polícia local tenha relatado que ela não estava atravessando na faixa de pedestres e que seria “muito difícil evitar o atropelamento com qualquer tipo de condução”, o incidente provocou inúmeras discussões, principalmente sobre se veículos trafegando sem motorista têm condições de tomar decisões morais.