HÁ LIMITES PARA A CIÊNCIA ?
HÁ LIMITES PARA A CIÊNCIA?
Miss Scarlet e Miss Violet são irmãs muito parecidas entre si. Contudo, embora praticamente da mesma idade – são ainda bastante novas – , já dão sinais de possuírem personalidades diferentes. Filhas clonadas da cadelinha Samantha, que morreu com catorze anos de idade e que pertencia à cantora e atriz norte-americana Barbra Streisand, aparecem no colo de sua dona em recente edição da Revista Variety.
Tudo começou – hão de estar lembrados os leitores – com a célebre ovelha Dolly, clonada no Instituto Roslin, de Edimburgo, sob a direção do cientista Ian Wilmut. O processo consistiu em colocar o código genético de uma ovelha no óvulo de outra cujo núcleo havia sido pouco antes esvaziado, introduzindo-se, após, o produto assim obtido em um terceiro animal para gestação. Dos estudos realizados nesse extraordinário campo da ciência, chegou-se às células-tronco, que são multipotentes, ou seja, capazes de gerar praticamente todos os tecidos do corpo. Com elas, abre-se a possibilidade de cura de doenças até agora tidas como incuráveis.
Quanto à clonagem de animais, que de início despertou acaloradas discussões, hoje está sendo aceita sem maiores problemas. A China, com efeito, já possui o maior centro de clonagem animal do mundo, na cidade de Tianjin, onde são “duplicados” animais domésticos, cavalos de corrida e, principalmente, gado bovino. Estima-se que poderão ser produzidos, anualmente, até dez mil embriões bovinos, o que abre perspectiva alimentar bonançosa para a enorme população chinesa. Mas, se você quiser clonar seu cãozinho de estimação, como fez a mencionada atriz americana, também não há problema algum, bastando que esteja disposto a pagar elevado preço – em dólares – pois não fica nada barato.
Contudo, o tema que levanta árduos problemas éticos e religiosos é a clonagem humana, ainda não admitida por nenhum país, mas que é bem possível já esteja sendo feita sob sigilo. Replicar eminentes cientistas que tanto bem fazem à humanidade, ou artistas que produzem obras encantadoras, ou atletas extraordinários que extrapolam os limites físicos da pessoa humana, parece à primeira vista objetivo louvável. Entretanto, não se sabe ainda se os indivíduos clonados teriam, além da parecença física, a mesma personalidade, a mesma inteligência e a mesma capacidade de seus modelos. O que é falacioso, ao meu ver, é o argumento de que o homem não pode equiparar-se a Deus. Se o Criador permite que a ciência chegue a tal limite, é porque não se trata de um mal.
Contudo, a notícia que chamou atenção nestes últimos tempos, foi a disposição do mencionado cientista escocês – aquele da ovelha Dolly – de servir de cobaia para tratamento, com células-tronco, do Mal de Parkinson de que há pouco foi acometido. Já imaginaram, se a terapia for um sucesso e se outras experiências também resultarem positivas, não só estará consolidado promissor caminho terapêutico, como Ian Wilmut será, com muita justiça, introduzido na galeria dos maiores benfeitores da humanidade.
Em meu costumeiro papo de fim de semana com Raimundo, aquele caiçara que todos conhecem, depois de algumas amenidades contei-lhe das extraordinárias perspec-tivas de tratamento médico com células-tronco. Vi que ele ficou pensativo, mas depois de algum tempo enunciou conclusão que não tive como contestar. “Sabe, seu doutor, então não vai demorar para os grandes laboratórios colocarem à venda injeções, comprimidos ou sei lá o que, dessas tais células, até para curar o câncer. O preço, como sempre, é que vai ser o que eles quiserem...”. Você, amigo leitor, teria como contestar o Raimundo?
Darly Viganó
Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.