UM CAMINHÃO CHAMADO ZONA INFINITA

por CorujaJF
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O meu EU lírico morreu dentro da carroceria do caminhão. E a realidade bateu na porta quando tal ficou lotado de trabalhadores e funcionários públicos da CAMINHOBRÁS. O que era para ser somente uma estatal para tratar de estradas, passou a incorporar os veículos que transportam as mercadorias de todo o país, numa destas mirabolantes reformas administrativas.

O meu EU lírico era de um idealista poeta, quando não entendia Matemática e achava que soma e multiplicação não precisariam existir, tão somente a subtração e a divisão, com poucos produzindo e pagando impostos, inclusive sobre suas parcas rendas, para sustentar a máquina por detrás do caminhão lotado de gente que se fez necessária para tocar toda uma estrutura que sustenta o Estado Gigante. Obeso.

O meu EU lírico sucumbiu quando o peso ficou insuportável e os pneus arriaram de tanta gente em cima do caminhão e que parou de andar. Parou de rodar. Parou, na verdade, de se arrastar. O combustível estava para acabar mesmo, não havia mais verba na caixa para um beberrão que fazia 2 quilômetros com um litro ou menos, dependendo da época do ano ...

O meu traje cínico era vermelho e o rasguei com tristeza. Fiquei com pena dos vermelhos que deixei para trás que continuaram iludidos. Eu que fui ostensivo na causa, durante 24 horas por dia, durante 11 anos sem descanso, fosse na fala ou na escrita ...  rasguei tudo que escrevi.

A minha MEA CULPA começou a ser expressa para ditar como fora enganado por ideologias e pautas contra a melhor natureza humana, negando a Ciência e o Natural para a subversão de todas as ordens divinas ou geniais, em prol apenas dos postulados sem eficácia, sem mérito ou desprovidos de comprovação histórica, porquanto não funcionou em ponto algum do planeta.

A minha MEA CULPA se deu pela patente distribuição da miséria propalada como solução, com subtrações e divisões, sem ordem, sem soma, multiplicação ou prosperidade. A saída se deu porque não saí de um sonho, mas de um pesadelo para abraçar a realidade do suor do rosto para obter o pão de cada dia.

O meu ser lírico passou a estudar o outro lado, os outros lados, a lealdade e a solidariedade de libertários reais e não de preguiçosos embusteiros em busca de aliados para um só eixo.

No caminhão havia o setor da direção, o do freio, o da embreagem, o do acelerador, o do câmbio, o do motor, na repartição da cabine, onde 20 funcionários cuidavam de todo o movimento daquela maravilhosa máquina que custou bilhões. Havia o setor da limpeza e pintura que ficavam esperando o caminhão parar para poderem despendurar dos estribos, os 11 que vigiavam os ciscos, chuvas, poeiras e lamas que iam grudando pelo caminho no veículo, durante aqueles milhares de quilômetros, tudo para entregar aquela encomenda de um quilo de caviar e o litro de champanha para aquela pessoa especial do palácio.

Na carroceria existia o fiscal de quilometragem e desgaste, além do consumo, tal que mantinha contato radiofônico e telegráfico com o inspetor de velocímetro que se rebolava na cabine com o funk provindo dos subsídios à cultura, com fulcro na suavização do trabalho extenuante.

Tinham os piqueteiros que reclamavam muito e que ficavam andando por todo o caminhão com megafone, pois adotaram uma ideologia do concurso constante e ostensivo anual, pois pouca gente estaria trabalhando de verdade, devido às férias, licenças remuneradas, licenças quinquenais não remuneradas, licenças de diversos tipos especiais e porque ainda estariam muitos excluídos fora das benesses do caminhão. Bem, se todos ficassem juntos e ao mesmo tempo não daria para mexer o punho, nem o cotovelo para dar a partida, então as benesses tinham que ser criadas todos os meses pela Neo-Carta Del Lavoro fascista dos loucos e insaciáveis chefes dos grevistas, que mandavam e desmandavam em todos os caminhões, não só neste especialmente. Este era apenas um entre milhões.

Vinham alguns loucos que pegavam caronas na capota, de tão apertado que lá estava. Vinham e vinham de todos os lugares, com ideia de estado anárquico, radical, extremado para um outro podre lado, até com ideologias mais estapafúrdias como o Estado totalmente ausente, sem conhecimento algum de virtude ou do maleável, sem um quê de liberdade verdadeira, sem  a  responsabilidade em favor dos vulneráveis, sem trabalho de estudo ou por ausência de solidariedade. Um lado apertava e esticava tanto a correia do caminhão que brotava esta gente do chão. Não dá para acreditar em estado obeso , muito menos no minárquico, abaixo do mínimo necessário que seria essencial para a rodagem perfeita.

Os mais moderados queriam a redução para dez fuscas eficazes, duas camionetes, três motos por localidade e nada mais, porque seria muito mais ágil para tudo funcionar plenamente e em todos os rincões do país. Chega daquela coisa de milhões de caminhões que gastam bilhões e bilhões. Nascimento de nação racional. Com produção, com crescimento, soma, multiplicação, com valores economizados para todos e com sobras para comprar o que faltar do colega que trabalha bem naquilo que o caminhão jamais trabalhou.  As incidências de impostos nas rendas não seriam mais de 50%, mas de apenas 10% a 20%, com muita gente trabalhando, muito mais valor arrecadado, muito mais valor dividido, menos subtraído de quem produz e guarnecendo os setores essenciais e estratégicos que os particulares motoristas não soubessem lidar e dos quais fossem dependentes para transitarem. Muitos documentos de cem e mil anos juntaram, mas ninguém havia lido antes de fundar e refundar a roda quadrada do caminhão.

Meu EU lírico até voltou. O caminhão, porém arriou, a fome se alastrou.

E, enfim, o caminho do meio foi tomado com Ciência e com respeito por todos os seres, sem preconceitos ou privilégios, sem empoderamentos para burocratas de facções, sindicalistas, minorias criadas como vítimas, bandidos assaltantes de cargas ou traficantes de armas,  cigarros e entorpecentes.  Retiraram alunos de cativeiros universitários, libertando todos eles dos loucos, inclusive dando a alforria para as pessoas-bandeiras de ideólogos.

Pensar é bom, repensar dá dor e só a engenharia e reengenharia salvam o mundo físico, com as belezas todas, gerais e especiais da arquitetura, por planejamentos estudados pelos demais célebres cientistas.

Na hora de levar o caminhão para a sucata, o que já deveria ter sido feito há uns bons dois anos,  eu mesmo fui dar uma última olhada naquele lugar onde passei a minha vida trabalhando por 35 anos e notei que ele havia sido pintado e repintado várias vezes. A última pintura trazia uma pichação de apelido, dado a ele, na traseira: A ZONA INFINITA.

Raspando, notei que estava escrito BRASIL por debaixo. Raspei mais uma vez, por decapagem cuidadosa e estava lá escrito que se tratava de propriedade da REPÚBLICA DOS ESTADOS UNIDOS DO BRASIL ( TRUCK MADE IN USA ) , com isto :

- Que saudade da Monarquia!       

- Assinado : um ser lírico sem mais quaisquer poesias ...

Abraços do CORUJAJF

JOÃO CARLOS DE SOUZA LIMA FIGUEIREDO

SÃO PAULO, 31 DE MARÇO DE 2017