RASO E PROFUNDO

por CorujaJF
em Poesia
Acessos: 680

 

No fundo dos seus olhos rasos d'água 
Lá no fundo negro daquela esperança
Brota líquida lágrima que nos alcança
Libertando-nos do rancor e da mágoa

Liberta-nos , ainda que tardiamente 
Desde a Colônia , toda aquela memória
De como começamos a nossa História 
E o mundo gira, parados aqui ardidamente

Nosso debate é profundo sobre a porcaria
Assim rasas são as nossas mentes e almas 
Infames hipócritas que gritam moral em toda via
Isto tudo pelo poder , defronte as gentes calmas

São os eleitos destas gentes para fazerem tudo
Aquilo que seria da feitura de cada um de nós 
E usamos o patrimônio público como punhados de pós
E ficamos atônitos com o profundo vão , em luto

A gente sofrida não é a que passa necessidade 
É toda gente que gostaria de ser da nação 
E é impelida a ser abocanhada por um leão
Faminto leão sem receita para tanta despesa e vaidade

O empresário combalido que desistiu por insistência
De ser cobrado e tanto que não sobra para viver 
Não sobra para empregar a gente sem vivência 
Larga tudo para ser empregado e sobreviver

Concursados engrossam a monstruosa máquina 
Máquina ultrapassada que não funciona e estraga
Toda a dinâmica carcomida que não serve nem com mágica
O mínimo não é feito , porque se concentram na praga

Praga da utopia insana que alimenta o bicho faminto
Faminto por poder , por dinheiro para mais poder 
Sem dever realizado, legalizando todo o instinto 
Abandonando o espírito , se entregando a carne até feder

Não há debate profundo , somente a retórica
Há o raso sobre o fundo , sem fundo não há o raso
Má dialética serve para convencimento do mais parvo 
Ensinado por aquele que ouviu falar, sem tradição histórica

Monarquia parlamentarista com poder moderador
República privatizadora da coisa pública que não é
Republicanos parlamentaristas que impõem também a dor
E sobra a conclusão que a falta de caráter destrói a fé

Enquanto equivocados extremistas digladiam nas sacadas
Com bandeiras para eleger outros e novos insanos
Novos tentados pelas tentações mal vigiadas e oradas
Os incautos batem palmas e vaiam com todos os panos

Em todo caso, há o belo e olhado passado lá no futuro
Em todo caso, há como repelir os velhos e feios passados
Em todo caso, há o caminho de virtude no meio, como furo
Antes que as casuísticas deixem-nos queimados, fritos e assados

Há esperança de viver no invivível , sem temer 
Este velho Homem que se entrega a viver tudo, sem dizer
Que parece saber tudo sobre um breve fim do mundo
E prefere falar sobre o raso do que sobre o fundo

 

ABRAÇOS DO CORUJAJF 

João Carlos de Souza Lima Figueiredo